
O realizador da comédia de acção “A Dívida”, prestes a estrear, conta como foi trabalhar com as estrelas Gilmário Vemba e Neide Van-Dúnem. E assume objectivos ambiciosos: mudar a face do cinema angolano e avançar para Hollywood!
O filme “A Dívida” já tem data de estreia?
Temos a antestreia marcada para dia 13 de Março em Moçambique.
Porquê primeiro em Moçambique?
Vão ser várias antestreias, em vários países. Esta é a primeira porque já tem a data marcada.

O Gilmário estará presente?
Eu e o Gilmário estamos confirmados na antestreia, estamos a ver se há mais algum actor que esteja disponível. E vamos procurar fazer deste modo todas as antestreias.
Como corre a promoção do filme?
Está num bom passo. Em Angola já tinha começado há mais tempo e é mais fácil, porque a produção é lá. Agora estamos em Moçambique e depois seguem-se outros países da lusofonia. As pessoas pensavam que era mais um filme africano, mas depois de verem o trailer ficaram maravilhadas. Dizem “isto é outro mundo”, “isto é Hollywood”. São estes feedbacks que nos fazem acreditar que as pessoas estão a gostar e ansiosas pela estreia.
Há quanto tempo trabalha como realizador?
Há 13 anos.

Já fez outros filmes?
Este é o meu primeiro como realizador. Os outros filmes que fiz foi como cinematógrafo, editor e director de produção. Este é o primeiro que escrevo e dirijo.
Então é também uma estreia para si?
Sim. Posso dizer que é o meu filho. (risos)
GUIÃO DO ANACLETO, GARGALHADAS DO GILMÁRIO

Como surgiu a ideia de trabalhar com o Gilmário?
Primeiro foi criar as bases para trazer um produto de alta qualidade. Teria de ser a partir de uma empresa que suportasse a qualidade desejada, como a Black Walk. E daí definir os padrões e que tipo de produto queremos fazer. Partindo do princípio que queremos fazer filmes com grande abrangência, com alta qualidade e que possam vender não só em Angola, mas em toda a parte do Mundo. Para um filme de acção e comédia ninguém melhor do que o Gilmário podia fazer aquele papel. Porque é excelente como actor e como comediante. Então é uma combinação muito bem acertada.
Já tinham trabalhado juntos?
Sim, em alguns trabalhos dos Tuneza, em alguns videoclips dos Tuneza, em que fui realizador. Já nos conhecemos desde 2009 e isso ajudou também no trabalho deste filme, claro!
Quando decidiram fazer o filme?
Em 2018 fizemos um trabalho de campo, que era como produzir filmes de alta qualidade em Angola. Um ano completo de investigação, para saber como manter um certo nível de qualidade a custos particularmente baixos. Depois de constituirmos todo esse modelo, criámos “A Dívida”. Em Janeiro de 2019, fizemos o primeiro teaser, a amostra daquilo que queríamos fazer.

Quem teve a ideia do guião?
Fiz o guião todo do princípio até ao fim. A seguir fui sentar-me com o Gilmário para vermos aquele lado da comédia, como é que podíamos apresentar em torno daquela história, que é a parte onde ele é mais forte e podia dar uma maior contribuição. A partir daí criámos mesmo o guião final.
Como é trabalhar com o Gilmário?
Ele como pessoa é excelente e como profissional também. Daí que é excelente trabalhar com ele. Prima muito pela palavra dele, fica bem certa naquilo que diz e procura nunca falhar.
Qual a maior dificuldade que enfrentaram?
O pior momento foi quando uma das actrizes do filme, a Sany Cláudia, saiu de Luanda para Lisboa, onde tinha outro filme para fazer. Nós só tínhamos três dias para trabalhar com ela. No primeiro dia desses três, houve um acidente. As filmagens deviam começar às 8h00 e ela só conseguiu ficar pronta às 16h00. Ia fazer um papel muito importante e não conseguimos acabar as filmagens. A sorte foi que ela voltou a Angola depois para terminar de gravar a cena.

E o melhor momento?
As filmagens de acção foram talvez dos melhores momentos. Houve um dia que começámos a gravar às 14h00 e só acabámos às 19h00 do dia seguinte. Foi um exagero. A cena é um pouco longa e tem uma sequência de acção contínua. Então é preciso pegar os diálogos, os detalhes, os vários planos. E depois tem de ser repetido, os actores têm de ser novamente caracterizados…
O que distingue este filme de outros feitos em Angola?
Muita coisa. Estamos a falar na forma como se apresenta, a forma como guião foi preparado, a selecção dos actores. Tudo. Não há nada do género em Angola!
Como foi trabalhar com a Neide Van-Dúnem?
Trabalhar com estrelas… (risos) Foi muito bom, porque é superprofissional. Conhece bem a arte, então foi muito fácil trabalhar com ela. Era só passar a mensagem e deixá-la fazer a magia. Foi muito bom.

SEQUELA JÁ ESTÁ AGENDADA!
Fazer este filme foi uma aventura em termos financeiros?
(risos) Qual aventura, foi mesmo um suicídio! (risos) Porque fizemos com os nossos próprios fundos. Não foi fácil, mas conseguimos.
Esperam ter retorno?
Sim esperamos, porque a aposta na produção do filme é que cada pessoa que assista se sinta satisfeita pelo dinheiro que gastou. Isso já vai ser um bom veículo para chamar mais gente e assim sucessivamente, para podermos ter os nossos retornos.
Alguma vez pensaram desistir?
Desistir, desistir, não. Mas chegar a um ponto em que pensámos que talvez nos tivéssemos aventurado demais, sim. (risos)
Pediram muito apoios?
Sim, mas como Angola está em crise e disseram-nos para esperar, não quisemos esperar cinco anos. O melhor é fazermos com o que temos. E assim foi.

Até onde pretendem ir com o filme?
Neste momento gostaríamos que o filme conquistasse o público. Já temos agendadas as filmagens para a sequela. Já está adiantada a continuação de “A Divida”.
Com Gilmário?
Sim. É a história dele.
Também para internacionalizar?
Sim. A ideia é mesmo fazer um filme para um público aberto. Queremos que o terceiro e o quarto sejam em inglês, com legendas em português.
Em que realizadores se inspira para fazer o seu trabalho?
Inspiro-me no David Lynch. Tem uma maneira de contar as histórias com que me identifico e revejo.
Pretende chegar a Hollywood?
Já estamos a caminho.

TUNEZA: “NÃO FOI UMA SAÍDA QUE O GILMÁRIO QUIS”
Como viu a saída do Gilmário dos Tuneza?
Quando criamos um espaço de desconforto, criamos abertura para criar o confronto. E essa abertura para criar o confronto pode trazer coisas muito boas, melhores do que as que tínhamos antes. Com a saída dele dos Tuneza, por acaso temos estado a ver um Gilmário que nunca vimos. Um Gilmário que faz tournées na Europa.
Foi melhor para ele?
Se me perguntarem se prefiro o Gilmário agora sozinho ou o Gilmário nos Tuneza, não há dúvidas, posso dizer que é ele sozinho. Se bem que ele podia fazer tudo com os Tuneza, juntos, sem problema. Não foi uma saída que ele quis, houve outras coisas por detrás. Mas ele deu a volta.
Isso abalou as filmagens?
Não. Nem demos conta. No dia em que isso aconteceu estávamos a filmar. Ele saiu da reunião com os Tuneza e foi directamente para as filmagens. Ninguém soube de nada. Só quando chegámos em casa é que começámos a ver nas redes sociais. Como sabíamos que era um assunto delicado para ele, preferimos dar-lhe espaço. Não falámos sobre o tema nas filmagens nos dias seguintes.