
O luso-guineense foi escolhido para integrar o programa “Passaporte 2020”, da Academia Portuguesa de Cinema, que tem como objectivo dinamizar a participação de artistas portugueses no mercado internacional de cinema e televisão. Welket Bungué junta-se assim a um grupo exclusivo de 12 actores, onde está também o luso-angolano Pedro Hossi, no meio de várias estrelas consagradas do meio artístico português. À espera deles estão nomes de peso, responsáveis por escolher os elencos de séries como “Casa de Papel” e “White Lines”, ambas na Netflix, e do filme alemão “System Crasher”.
Por que se candidatou a este casting?
Candidatei-me a este programa “Passaporte” porque sou dos poucos actores internacionalizados que tem naturalidade guineense, mas também portuguesa. E a Patrícia Vasconcelos [mentora do projecto] já me tinha convidado pelo menos três vezes.

Não aceitou nessas vezes porquê?
Nos últimos três anos estava sempre no Brasil no momento em que acontecia o “Passaporte”, portanto não pude estar presente. Este ano, como estarei em Setembro em Portugal, coincide. E fico extremamente feliz que tenha sido seleccionado, porque realmente os talentos são muitos. Este é um encontro que acontece entre directores de casting internacionais e actores. Enquanto actor português baseado na Alemanha, tenho trabalhado mais fora de Portugal. Interessa-me bastante poder estar em contacto com essa parte essencial da indústria do cinema.
Que expectativas tem?
As minhas expectativas são bastante boas, positivas. Isto aqui é um encontro oficial do mais alto nível, dentro daquilo que é a capacitação de pontes entre actores e directores de casting. No fundo, são as pessoas que acabam por propor às produtoras ou aos realizadores que gostariam de ter actores ou actrizes com o nosso perfil para participar dos filmes deles. E também é muito bom que isto aconteça em Portugal.

Por trazer mais oportunidades perto de casa?
O ano passado estive no “Subtitle European Film Festival”, que acontece na Irlanda e que de alguma maneira funciona de uma maneira similar, mas lá temos acesso a 250 directores de casting de todo o Mundo. Por experiência, sei que é bastante positivo este tipo de eventos e, sobretudo, mais importante para mim é poder acontecer em Portugal, porque estarei lá, poderei falar na minha língua, ver colegas por quem nutro especial admiração. Fico muito feliz que a turma seja de alguma maneira composta por artistas que também são emergentes na ficção portuguesa.
Como reagiu quando soube que tinha sido selecionado, uma vez que é um grupo restrito, com alguns consagrados?
Soube da notícia ontem de manhã. Estou em Bruxelas, viemos fazer aqui a antestreia do filme “Berlin Alexanderplatz”, que inclusive, depois da estreia na Alemanha, tem tido feedback bastante positivo. As críticas são numerosas e abonam bastante a nosso favor. Os aspectos técnicos do filme têm sido bastante bem criticados, o público aqui em Bruxelas também adorou essa notícia. Adicionando esta boa experiência que tem sido viajar com o filme, receber a notícia que faço parte desta turma tão exclusiva do “Passaporte” é algo que me deixa bastante entusiasmado. Trata-se de uma possibilidade de nos darmos a conhecer mais e melhor, para profissionais do ramo do cinema e que têm vasta experiência sobretudo ao nível de produções internacionais. Isso é muito, muito válido.

Que salto gostaria de dar em termos de carreira internacional?
Em termos de carreira, o salto nunca sabemos quando acontece. Estou a terminar o meu livro, onde falo sobre o cinema de autorrepresentação. É um entendimento altamente subjectivo, que tenho vindo a desenvolver relativamente à forma como defino a minha filmografia em termos de conteúdo, mas também em termos estéticos. Por outro lado, estou a viajar com o filme “Berlin Alexanderplatz”. Temos mais estreias previstas para outros países aqui na Europa e, enquanto isso, tenho uma longa-metragem para filmar no final deste ano ou início do próximo, aqui mesmo na Bélgica. Portanto, não sei se o “Passaporte” poderá ser determinante para um eventual salto na carreira. Mas no mínimo será, com certeza, um encontro bastante benéfico e produtivo, mais não seja nesta relação de troca, de conhecimento, mas também de contactos.

Como?
Estas redes, estes eventos, contribuem bastante para fortalecer a rede de contactos. Isso é bastante necessário, porque nem todos os actores em Portugal beneficiam do mesmo nível de mediatização. O “Passaporte”, nesse sentido, é essencial sobretudo para quem tem o cinema como o seu ofício predilecto enquanto actor. Estou bastante grato, sinto-me bastante apreciado e valorizado. E vai ser muito bom estar com esta turma.